À distância, Allami tinha admirado Hrebid, que adormecera em seu assento.
"Ele parecia muito cansado", relembra.
"Eu tinha a estranha sensação de que procurara por ele há muito tempo. O meu sentimento crescia com o tempo e eu sabia que queria falar com ele", contou Allami.
Declaração de amor
Um dia, os dois foram enviados em uma missão para retirar insurgentes do hospital da cidade. E aos poucos finalmente começaram a se conhecer.
"Depois das patrulhas, nós voltávamos para o alojamento e, um dia, Btoo me convidou para comer e conversar com ele e os outros soldados", contou Hrebid. "Nós conversávamos toda noite e o meu sentimento por ele ia crescendo."
Três dias após aquele jantar, os dois inventaram uma desculpa para sair do alojamento e conversar a sós. Eles se sentaram em um estacionamento escuro, cheio de Humvees (veículos utilitários militares) do Exército americano.
"Me sentia muito próximo dele e achei que era hora de dizer algo", contou Allami.
"Então falei do que eu sentia, disse que estava apaixonado por ele. Ele me beijou e saiu. Foi uma noite maravilhosa. Fiquei dois dias sem comer depois daquilo."
O relacionamento foi evoluindo e eles passavam cada vez mais tempo juntos no acampamento.
"Nas missões, eu tentava ficar perto dele, embora devesse estar com os americanos. Caminhávamos juntos e tiramos algumas fotografias", disse Hrebid.
Perseguições
Os colegas iraquianos e americanos logo começaram a perceber que havia algo entre eles.
"Falei sobre Btoo ao meu capitão americano e ele nos ajudou, trazendo Btoo para ficar algumas noites comigo no acampamento americano", disse Hrebid.
"Mas alguns dos outros soldados pararam de falar comigo quando descobriram que eu era gay. Um dos meus amigos tradutores, um rapaz da minha cidade, me bateu com um pedaço de pau e quebrou meu braço."
Em 2007, Hrebid e Allami foram enviados a Diwaniyah, no sul do Iraque. Eles tinham a sorte de estar na mesma cidade, mas ainda tinham de manter o relacionamento em segredo.
Separação
Em 2009, Hrebid pediu asilo nos Estados Unidos. Após o longo período de serviços prestados ao Exército americano, era muito perigoso para ele ficar no Iraque.
"Pensei que, se eu fosse, seria fácil convidar Btoo para vir depois."
"Sabia que se ficássemos no Iraque não haveria um futuro para nós. Íamos acabar casados com mulheres e vivendo escondidos para o resto da vida. Mas eu tinha assistido (ao seriado de TV) Queer As Folk e sabia que existia uma comunidade gay no outro lado do mundo."
O pedido de asilo de Hrebid foi aceito e ele foi viver em Seattle, no Estado americano de Washington. Mas suas tentativas de conseguir um visto para Allami fracassaram.
Nesse meio tempo, a família de Allami havia descoberto sua homossexualidade e ele sofria pressão para se casar com uma mulher. Com a ajuda de um amigo de Hrebid - o ativista pelos direitos de refugiados Michael Failla -, o jovem fugiu para Beirute, no Líbano.
"Não foi uma decisão fácil, eu tinha um contrato de 25 anos com o Exército e era o único suporte financeiro da minha família. Mas eu sabia que tinha de ficar com Nayyef", contou Allami.
Ele apelou ao Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur), mas seu visto para entrada nos Estados Unidos como turista venceu antes que seu caso fosse resolvido.
Para dificultar a situação, como imigrante ilegal no Líbano, tinha de se manter longe de soldados e postos de checagem, sob o risco de ser enviado de volta para o Iraque.
"A espera foi difícil", disse Allami. "Mas quando falava com Nayyef, sempre me sentia mais forte."
Eles conversavam pelo Skype todos os dias.
"Ele me via fazendo café da manhã, eu o assistia enquanto ele fazia o jantar, nós conversávamos como se vivêssemos juntos", disse Hrebid.
Allami foi entrevistado várias vezes pelo Acnur, mas seu pedido sofreu vários reveses e atrasos.
'Padrinho'
Michael Failla interveio novamente, voando duas vezes para Beirute para advogar em nome de Allami.
"Eu digo que ele é meu padrinho", contou o iraquiano.
No entanto, enquanto aguardava a decisão do Acnur, Allami foi chamado para uma entrevista na embaixada do Canadá no Líbano.
Em setembro de 2013, com a ajuda de Failla, ele voou para Vancouver, no Canadá. Com isso, agora apenas 225 km separavam os dois.
"Eu viajava todo fim de semana e nos meus dias de folga para ver Btoo", disse Hrebid.
Eles se casaram no Canadá, em 2014. Hrebid pediu, então, um visto para que seu marido pudesse ir viver com ele nos Estados Unidos.
Em fevereiro de 2015, os dois foram chamados para uma entrevista no departamento americano de imigração em Montreal.
"Foi um voo longo, seis ou sete horas. A temperatura (em Montreal) era 27 graus abaixo de zero, eu estava congelado", recordou Hrebid.
"A oficial nos fez três ou quarto perguntas e, depois de uns dez minutos, disse a Btoo: 'Você foi aprovado para viver como imigrante nos Estados Unidos'."
"Tive de pedir a ela para repetir. Cobri minha boca com a mão para não gritar. Saímos da sala e eu chorava e tremia. Não podia acreditar que aquilo estava finalmente acontecendo. Íamos morar juntos no lugar onde queríamos viver."
Em março de 2015, doze anos depois de se conhecerem, Hrebid e Allami viajaram de ônibus de Vancouver para Seattle. Eles decidiram fazer uma nova cerimônia de casamento em Seattle.
"Não tínhamos celebrado o primeiro casamento e queríamos o casamento dos nossos sonhos", disse Hrebid. "Foi o dia mais feliz da minha vida."
Documentário
Hoje, o casal mora em um apartamento em Seattle. Hrebid, que trabalha como gerente em uma loja de decoração, é cidadão americano. Allami tem um green card e deve se tornar cidadão do país no ano que vem. Ele trabalha como supervisor em canteiros de obra.
A história dos dois foi contada no documentário Out of Iraq , exibido no LA Film Festival (festival de cinema de Los Angeles) no ano passado.
"Não temos de nos esconder. Posso segurar a mão dele quando caminhamos pela rua", disse Hrebid.
Allami concorda. "Tudo ficou tão diferente para nós agora."
"Antes não havia esperança, mas agora somos uma família. (Seattle) é uma cidade que acolhe homossexuais. Meu sonho se realizou. Sou livre."
Homossexualidade no Iraque
Não é ilegal ser gay no Iraque, mas, militantes dizem que homens e mulheres homossexuais são vítimas de assassinatos no país.
Em 2012, uma investigação do Serviço Mundial da BBC revelou que órgãos ligados à polícia estavam envolvidos em perseguições sistemáticas de homossexuais.
O grupo autodenominado Estado Islâmico, que controla áreas do país, matou dezenas de homens homossexuais em 2015 e 2016 - muitos deles jogados do topo de altos edifícios.
Segundo estudo publicado nesta semana no “Journal of Personality and Social Psychology", a máquina tem precisão de 81% entre homens e 74% entre mulheres, mas “a precisão do algoritmo aumenta para 91% e 83%, respectivamente, se forem dadas cinco imagens da pessoa”.Os cientistas alimentaram uma rede neural profunda com 35.326 imagens faciais e, a partir delas, a máquina foi capaz de distinguir tanto traços físicos, como o formato do nariz, e o gestual de gays e heterossexuais. As fotografias foram retiradas de um site de relacionamentos público. Os resultados levantam questões sobre as origens biológicas da orientação sexual, a ética das tecnologias de reconhecimento facial e o potencial da inteligência artificial em violar a privacidade das pessoas.“Os resultados avançam nosso entendimento sobre as origens da orientação sexual e os limites da percepção humana. Além disso, dado que companhias e governos estão cada vez mais usando algoritmos de visão computadorizada para detectar questões íntimas das pessoas, nosso estudo expõe uma ameaça à privacidade e segurança de homens e mulheres gays”, dizem os pesquisadores.
— É certamente inquietante. Como qualquer ferramenta nova, se ela parar nas mãos erradas, pode ser usada para propósitos ruins — disse Nick Rule, professor de psicologia da Universidade de Toronto, em entrevista ao “Guardian”. — Se você começa a perfilar pessoas com base na aparência, depois as identifica e faz coisas horríveis contra elas, isso é realmente ruim.
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Segundo estudo publicado nesta semana no “Journal of Personality and Social Psychology", a máquina tem precisão de 81% entre homens e 74% entre mulheres, mas “a precisão do algoritmo aumenta para 91% e 83%, respectivamente, se forem dadas cinco imagens da pessoa”.Os cientistas alimentaram uma rede neural profunda com 35.326 imagens faciais e, a partir delas, a máquina foi capaz de distinguir tanto traços físicos, como o formato do nariz, e o gestual de gays e heterossexuais. As fotografias foram retiradas de um site de relacionamentos público. Os resultados levantam questões sobre as origens biológicas da orientação sexual, a ética das tecnologias de reconhecimento facial e o potencial da inteligência artificial em violar a privacidade das pessoas.“Os resultados avançam nosso entendimento sobre as origens da orientação sexual e os limites da percepção humana. Além disso, dado que companhias e governos estão cada vez mais usando algoritmos de visão computadorizada para detectar questões íntimas das pessoas, nosso estudo expõe uma ameaça à privacidade e segurança de homens e mulheres gays”, dizem os pesquisadores.
A pesquisa identificou que, além do gestual e da apresentação, algumas características físicas indicam maior tendência para a homossexualidade. Entre os homens, por exemplo, os gays possuem mandíbulas mais estreitas, narizes mais longos e frontes maiores que os homens heterossexuais. Entre as mulheres, mandíbulas maiores e frontes menores sinalizam a homossexualidade.
Estudos anteriores mostraram que humanos têm precisão de 61% para identificar a orientação sexual de homens apenas analisando imagens, e 54% para mulheres. Dessa forma, o sistema criado pelos cientistas em Stanford mostra que “as faces possuem muito mais informações sobre orientação sexual que podem ser percebidas e interpretadas pelo cérebro humano”.
Os pesquisadores sugerem que os resultados fornecem “forte apoio” à teoria de que a orientação sexual decorre da exposição do feto a certos hormônios antes do nascimento, que as pessoas nascem gays, não é uma escolha.
E as implicações para a privacidade são alarmantes. Redes sociais e bancos de dados de governos possuem bilhões de imagens faciais, e essas informações podem ser usadas para detectar a orientação sexual das pessoas sem consentimento. Adolescentes, por exemplo, podem usar a tecnologia para analisar imagens de colegas, mas o mais alarmante é que governos que perseguem a população LGBT podem usar a análise de imagens para identificar seus alvos.
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— É certamente inquietante. Como qualquer ferramenta nova, se ela parar nas mãos erradas, pode ser usada para propósitos ruins — disse Nick Rule, professor de psicologia da Universidade de Toronto, em entrevista ao “Guardian”. — Se você começa a perfilar pessoas com base na aparência, depois as identifica e faz coisas horríveis contra elas, isso é realmente ruim.
Os autores argumentam que a tecnologia existe, e demonstrar suas capacidades é importante para expor governos e companhias que cogitem fazer uso dela, além de levantar o debate sobre os riscos de privacidade e a necessidade de novas regulações.
— O que os autores fizeram aqui foi uma declaração forte de quão poderosa essa tecnologia pode ser. Agora nós sabemos que precisamos de proteções — comentou Rule.
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